Archive for the ‘Sonhos’ Category

Quem tranca a porta em Trancoso?

24/01/2009

Eu estava na área de serviço da casa dos meus pais em Brasília. Não sei porquê, eu estava deitado no chão, no ladrilho frio. Então eu vi entrando pelo cobogó, que lá na casa deles é construído com tijolos espaçados, ao invés de concreto premoldado como era na Colina, um pastor alemão. Como aquilo era possível, o espaço entre os tijolos mal permite a passagem de um gato? Primeiro o focinho, depois os dentes ameaçadores, e após a cabeça o corpo inteiro, num piscar de olhos, espremido como um caroço de azeitona. Então lá estava aquele cachorro dos infernos, babando em cima de mim. Eu, deitado no chão, paralisado de terror, não conseguia nem virar os olhos em direção (direcão) ao bicho, apenas sentia a presença dele ali, meus olhos grudados no teto. Pensei em me arrastar lentamente em direção à porta da cozinha, era uma boa saída, talvez ele não percebesse, e … ZÁS! ele mordeu o meu pescoço. Mas não apertou. Apenas o abocanhou com suas presas enormes, sem apertar. Completamente subjugado, certo da minha morte, senti o maior pavor da minha vida. Eu sabia que não podia mover um milímetro sequer, que ele esmagaria meu pescoço como qualquer um de nós esmaga uma barata. Mas parecia que enquanto eu permanecesse quieto ele não moeria meus ossos. Como um gato quando está brincando com um rato. Morde o suficiente para não matar. Depois solta, o bicho tenta fugir, começa a correr, acha que encontrou a liberdade, só para levar uma patada, rolar que nem uma bola e ser imobilizado de novo. Pensei então no Chico Bong, o cãozinho de estimação da minha garota. Talvez, se eu conseguisse chamá-lo, ele de alguma forma distrairia o pastor e eu teria uma chance de liberdade. Não conseguia imaginar outra saída, era minha última esperança. Comecei timidamente, bem baixinho, um assovio, o assovio que eu uso para chamá-lo. Senti as mandíbulas apertarem.

 

Na véspera, quarta, 11/01/09

 

No aeroporto de Guarulhos eu e Bel estamos às turras. Brigando sem motivo algum fazemos o check -in. Estamos nós dois e o Tomaz, nosso filho. Penso que não quero brigar na frente dele, nunca mais. Não quero que ele veja e ouça seus pais levantando as vozes um contra o outro e falando palavrão. O vôo da Gol está atrasado, não havia mais lugar nos vôos da TAM para Porto Seguro. Não gosto de viajar de Gol. Uma vez, alguns meses depois do início das suas operações, fui tratado que nem um pária e fiquei com mó bodi dus cara. Foi num vôo meio vazio, que peguei porque as opções pela VARIG e pela TAM não eram convenientes. Eu estava exausto, virado depois de vários shows, vôos e conexões,  louco pra chegar em casa. Sentei sozinho numa fileira de três cadeiras. Ainda no solo me deitei. Um comissário apareceu e mandou eu ficar sentado para a decolagem. Me endireitei, mas assim que ele passou eu deitei de novo. Eu já decolei e aterrisei várias vezes assim. Deitado, com o cinto de segurança do banco do meio afivelado. Sei que não é o procedimento padrão, mas foda-se, se alguma coisa der errado o que que vai mudar, eu estava exausto, já tinha feito isso tantas outras vezes, então, … estava começando a dormir de novo quando veio uma voz pelo sistema de auto-falantes do avião:

-“Se o passageiro insistir em não seguir as ordens do comissário será posto pra fora da aeronave!” Ou algo no gênero, acho que até mais ofensivo. Uma voz terrível, com uma carga de stress e desprezo grotescas. Sabia que era o comandante e que era comigo, claro. Humilhado, me endireitei. Jurei não mais pisar num avião dessa companhia. Mas como o caos aéreo é nosso, e também porque resolvi fazer esta viagem em cima da hora, acabei tendo que optar pelo inoptável. 

Lembrei que tinha esquecido minha sunga, e fui dar uma olhada numas lojas. Foi também um motivo para sair de perto da zona de conflito. As sungas que encontrei eram trapos para gringos, com bandeirinhas do Brasil e tudo o mais.  

Voltei para a mesa onde a Bel terminava um sorvete com o Tomaz. Sentei, chateado e deprimido. Então vi, ao lado da loja que eu tinha acabado de entrar, dois policiais militares, fardados, com dois cães pastores. Os cães eram gigantes! Juntou alguns curiosos ao redor, um dos policiais mostrou o adestramento do bicho, fazendo ele deitar, rolar, fingir de morto. Impressionante. Imaginei se eu tivesse alguma substância ilícita na minha mochila. Será que aqueles cães eram treinados para isto? O que aconteceria se eles começassem a farejar minhas coisas? Imaginei meu filho vendo seu pai ser preso e… parei por aí mesmo, porque eu estava mais limpo que o Ivan Lins. 

 

Ah, em Brasília meus pais tem uma pastora também, a Luna, que é mais doce que cocada. Ela chora quando nos vê…

 

Os pastores no meu sonho. Pastores também conduzem ovelhas e outros bichos. Inclusive gente.

 

O vôo atrasou duas horas, sem maiores explicações. O Tomaz resistiu bravamente, correndo para cima e para baixo pelos corredores da sala de embarque. Ele corre ohando para o chão. Quando ele encontra um risco ou emenda ela começa a seguir a marca no chão e não olha pra frente nem pra mais nada. Parece um míssel com mira laser, sensacional. Quando cansou sentou no chão, eu fui para lá também e ficamos brincando com seus carrinhos, para inveja dos aflitos enfilados, digo enfileirados. Afinal, passageiros com bebês de colo tem prioridade. Mas acho que a inveja não era porque entraríamos antes, mas sim por poder brincar no chão…

 

Depois de um vôo sem maiores sobressaltos e com menores comidas e bebidas, sorria!, você está na Bahia!